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1914

Esse ano tem um significado extremamente importante para a organização das Testemunhas de Jeová.

  • Em 1914 começa a presença de Jesus de forma invisível
  • Em 1914 Jesus começa a governar no seu Reino
  • 1914 marca o início dos últimos dias do tempo do fim
  • 3 anos e meio depois em 1918 começa a ressurreição dos ungidos
  • Que em 1918 também os verdadeiros cristãos vivos nessa época entram em cativeiro espiritual de babilônia a grande. Sendo libertos em 1919. Quando então Jesus reconhece eles coletivamente como seu escravo fiel e prudente. Seu meio aprovado para dirigir a obra e cuidar dos interesses dele na terra, seu única canal de comunicação e orientações para os servos terrestres
  • Que a partir de então começa o tempo da colheita com salvação ou destruição como resultado.

Poucos sabem que, por boa parte da história da Watchtower, as datas das profecias acima eram outras. Por muitos anos o escravo tinha datas diferentes para os mesmos eventos.

É uma opção não acreditar nessa data?

Podemos encontrar a resposta na A Sentinela, 1.° de abril, 1986, páginas 30 e 31 (w86 1/4 pp. 30-31). Abaixo alguns trechos:

Perguntas dos Leitores

Por que desassociaram (excomungaram) as Testemunhas de Jeová por apostasia a alguns que ainda professam crer em Deus, na Bíblia e em Jesus Cristo?

...

A associação aprovada com as Testemunhas de Jeová requer a aceitação de toda a série dos verdadeiros ensinos da Bíblia, inclusive as crenças bíblicas singulares das Testemunhas de Jeová. O que incluem tais crenças?

Que a grande questão perante a humanidade é a legitimidade da soberania de Jeová, que é o motivo de ele ter permitido a iniqüidade por tanto tempo. (Ezequiel 25:17) Que Jesus Cristo teve uma existência pré-humana e está subordinado ao seu Pai celestial. (João 14:28) Que há hoje na terra um "escravo fiel e discreto" a quem se confiaram todos os interesses terrestres de Jesus’, escravo que está associado com o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. (Mateus 24:45-47) Que 1914 marcou o fim dos Tempos dos Gentios e o estabelecimento do Reino de Deus nos céus, bem como o tempo da predita presença de Cristo. (Lucas 21:7-24; Revelação 11:15-12:10) Que apenas 144.000 cristãos receberão a recompensa celestial. (Revelação 14:1, 3) Que o Armagedom, que se refere à batalha do grande dia de Deus, o Todo-poderoso, está próximo. (Revelação 16:14, 16; 19:11-21) Que a isso se seguirá o Reinado milenar de Cristo, que restabelecerá o paraíso global. Que os primeiros a usufruí-lo serão os da atual "grande multidão" de "outras ovelhas" de Jesus. — João 10:16; Revelação 7:9-17; 21:3, 4.

...

O artigo deixa claro que para ser uma Testemunha de Jeová é necessário aceitar todos os ensinos, incluindo os que são particulares delas, entre estes a data de 1914 como o fim dos Tempos dos Gentios e do estabelecimento do Reino de Deus nos céus. Se alguém não acreditar, poderá ser considerado um apóstata e desassociado.

Como é calculado atualmente o ano de 1914

Podemos encontrar uma explicação de como chegar nesse ano, e porque ele é importante, no livro Você Pode Entender a Bíblia!, nas seção Entenda Melhor, páginas 217-220 (bhs pp.217-220):

22. POR QUE O ANO 1914 É IMPORTANTE?

A profecia em Daniel capítulo 4 mostra que o Reino de Deus começou a governar em 1914.

O que a profecia diz? Jeová fez o rei Nabucodonosor ter um sonho sobre um acontecimento futuro. O rei viu uma árvore muito grande ser cortada. Daí, um anjo mandou amarrar o toco da árvore com ferro e cobre. Por causa disso, a árvore não cresceria durante "sete tempos". Depois a árvore voltaria a crescer. — Daniel 4:1, 10-16.

O que essa profecia significa? Na profecia, a árvore é o governo de Deus. Por muitos anos, Deus governou a nação de Israel usando reis em Jerusalém. (1 Crônicas 29:23) Mas esses reis nem sempre foram obedientes a Deus. Então, Deus decidiu parar de usar reis para governar em seu nome. Isso era como derrubar a árvore e não deixar a árvore crescer por "sete tempos". Esses "sete tempos" começaram quando Jerusalém foi destruída, no ano 607 antes de Cristo. (2 Reis 25:1, 8-10; Ezequiel 21:25-27) Os "sete tempos" ainda não tinham terminado quando Jesus esteve na Terra. Ele mostrou isso quando disse: "Jerusalém será pisada pelas nações até se cumprirem os tempos determinados das nações." Os "tempos determinados" eram os "sete tempos". (Lucas 21:24) Na profecia, a árvore voltaria a crescer no fim dos "sete tempos". Jeová prometeu escolher um novo rei. Esse Rei é Jesus. O governo de Jesus vai durar para sempre e vai fazer coisas boas para todos. — Lucas 1:30-33.

Quanto duraram os "sete tempos"? Os "sete tempos" duraram 2.520 anos. Eles começaram no ano 607 antes de Cristo e terminaram no ano 1914. Foi nesse ano que Jeová coroou Jesus Cristo como Rei do Reino no céu.

Como chegamos a essa conclusão? A Bíblia diz que três tempos e meio são 1.260 dias. (Apocalipse 12:6, 14) Três tempos e meio são metade de sete tempos. Então, para saber quantos dias são sete tempos, temos que fazer 1.260 x 2, ou seja, sete tempos são 2.520 dias. Mas na profecia cada dia vale um ano porque a Bíblia diz: "Para cada dia um ano." — Números 14:34; Ezequiel 4:6.

Vemos que em Daniel capítulo 4 tem uma profecia dos 7 tempos que Nabucodonosor ficaria louco.

A Watchtower ensina que esse período tem um significado profético futuro. Da destruição de Jerusalém até o fim dos tempos das nações. Eles entendem que Jerusalém foi destruída pelos babilônios em 607 A.E.C. (antes da era comum), que nesse ano começam os "sete tempos".

A base para descobrir quanto duraria os "sete tempos" estaria no livro de Apocalipse 12:6,14 que diz:

6 E a mulher fugiu para o deserto, onde ela tem um lugar preparado por Deus e onde seria alimentada por 1.260 dias.

14 Mas foram dadas à mulher as duas asas de uma grande águia, para que ela pudesse voar para o deserto, para o seu lugar, onde seria alimentada por um tempo, tempos e metade de um tempo, longe da face da serpente.

Aqui "um tempo, tempos e metade de um tempo" são entendidos como 1 tempo + 2 tempos + 0,5 tempo, totalizando 3,5 tempos. Entendem então que 3,5 tempos são os 1.260 dias que a mulher seria alimentada por Deus que vimos no versículo 6. Como sete é o dobro de 3,5, então chegam a conclusão que 7 tempos = 2 x 1.260 = 2.520 dias.

Em outros dois textos temos o conceito de 'para cada dia um ano'.

Números 14:34

Vocês responderão pelos seus erros por 40 anos, de acordo com o número dos dias que espionaram a terra, 40 dias — para cada dia um ano, para cada dia um ano —, pois vocês saberão o que significa se opor a mim.

Ezequiel 4:6

E você terá de terminar esse período. "Então você se deitará de novo, desta vez sobre o seu lado direito, e carregará a culpa da casa de Judá por 40 dias. Para cada dia um ano, para cada dia um ano é o que lhe impus.

Conforme vamos ver a frente, este conceito é aplicado por muitos para interpretar várias passagens da Bíblia. No artigo acima do Você Pode Entender a Bíblia!, aplicam para os "sete tempos" e temos então que os 2.520 dias são na verdade anos.

Se contarmos a partir do ano 607 A.E.C. e somarmos 2.520 anos, chegamos em 1914 E.C. (era comum).

Quem originalmente chegou nesse cálculo?

A maioria tem dificuldades em explicar o cálculo acima e todos os textos relacionados, mas aceitam o produto final, o ano de 1914 E.C. como tendo significado profético.

Muitos acreditam que esse cálculo é único da Watchtower, que ela foi quem surgiu com esse entendimento. Podemos ver isso no livro Jehovah's Witness in the Divine Purpose de 1959, que contava a história da organização e mais tarde foi substituído pelo livro Proclamadores. Na primeira página dele temos as declarações (em tradução livre):

  • 1870 - Charles Taze Russel começa seus estudos da bíblia com um pequeno grupo de associados
  • 1877 - O livro "Three Worlds" é publicado identificando a data 1914 como o fim dos "Tempos dos gentios"

Curiosamente o livro Jehovah's Witness in the Divine Purpose não pode ser encontrado no site oficial. Mas com uma simples busca na internet conseguimos obter uma cópia em PDF dele.

Em publicações mais recentes também atribuem a Russel como tendo chegado a esse entendimento.

A Sentinela, fevereiro de 2017, página 25, parágrafo 8 (w17 fevereiro pp. 23-28):

Como Jeová guia seu povo hoje?

...

8 A partir de 1870, Russell e alguns outros começaram a fazer um estudo profundo da Bíblia e se esforçaram para restabelecer o verdadeiro cristianismo. Eles queriam ensinar a verdade da Bíblia em vários idiomas. Para ajudar a obra a crescer, em 1884 eles registraram legalmente a Sociedade de Tratados da Torre de Vigia de Sião (dos EUA), e o irmão Russell era o presidente.* Ele estudava muito a Bíblia e não teve medo de mostrar que ensinos como a Trindade e a imortalidade da alma não eram bíblicos. Além disso, ele entendeu que a volta de Cristo seria invisível e que "os tempos determinados das nações" terminariam em 1914. (Luc. 21:24) O irmão Russell não poupou tempo, dinheiro e esforços para ensinar as verdades da Bíblia a outros. Não temos dúvida de que o irmão Russell estava sendo usado por Jeová e Jesus para exercer a liderança naquela época tão importante.

Quando lemos acima que ele entendeu, somos induzidos a concluir que foi Russel quem chegou a conclusão que os "os tempos determinados das nações" iriam terminar no ano de 1914 E.C.

  • Será que sempre foi esta a explicação?
  • Foi a Watchtower quem originou estes cálculos?

Para responder isso precisamos primeiro descobrir como começou o conceito de usar "para cada dia um ano" na interpretação de profecias.

Para cada dia um ano

Na Bíblia temos dois textos que fazem essa aplicação.

Números 14:34

Vocês responderão pelos seus erros por 40 anos, de acordo com o número dos dias que espionaram a terra, 40 dias — para cada dia um ano, para cada dia um ano —, pois vocês saberão o que significa se opor a mim.

Ezequiel 4:6

E você terá de terminar esse período. "Então você se deitará de novo, desta vez sobre o seu lado direito, e carregará a culpa da casa de Judá por 40 dias. Para cada dia um ano, para cada dia um ano é o que lhe impus.

Nestes dois casos a própria Bíblia nos diz para fazermos a plicação de "para cada dia um ano" aos períodos apresentados ali. Interessante que no primeiro dias viram anos e no segundo anos viram dias.

Deveria essa regra de "para cada dia um ano" ser aplicada para outras profecias que falam de dias? Ou devemos deixar a Bíblia falar apenas pelo seu contexto?

Em nenhum ponto nestes dois textos vemos motivos para aplicar essa regra em outros lugares da Bíblia. Se Deus foi específico nestas situações em deixar claro que dias significavam anos, ou vice versa, não teria ele feito o mesmo em outras passagens quando isso fosse necessário?

Mas quem foram os primeiros a usarem este conceito?

Rabinos judeus

No livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados (original The Gentile Times Reconsidered em inglês) de Carl Olof Jonsson, na página 29 da 1a Edição em Português, vemos como este conceito teve origem com os rabinos judeus do primeiro século. Naquela época eles já aplicavam o conceito para a passagem de Daniel 9:24-27 onde fala das 70 semanas. Embora a profecia fale de semanas em nenhum ponto dá entender que devemos aplicar o conceito "para cada dia um ano" nela.

A palavra original para semana não se refere somente á uma semana de 7 dias, mas sim literalmente quer dizer 'período de sete’. Na verdade, muitas vezes se referia a períodos de 7 anos, então ao falar de 70 semanas podia estar se referindo a 70 períodos de 7 anos (490 anos).

A aplicação dessa passagem para o conceito de "para cada dia um ano" é feita no primeiro século E.C. pelo famoso rabino Akibah ben Joseph (c. 50-132 E.C.)

Apenas no nono século E.C. rabinos judeus começaram a fazer previsões e cálculos de outras passagens de Daniel usando esse método em conexão com os períodos de 1.290 dias, 1.335 dias (Daniel 12:11, 12) e 2.300 dias (Daniel 8:14). Em cada caso aplicando os resultados para o aparecimento do Messias.

Entre eles estava Nahawendi que aplicou Daniel 8:14 começando com a destruição de Shiloh, que ele datou em 942 A.E.C., até a data 1358 E.C. quando então chegaria o Messias. Ele também contava os 1.290 dias começando na destruição do templo em 70 E.C. e assim chegando no mesmo ano de 1358 E.C.

Outros da mesma época como Saadia ben Joseph e Solomon ben Jeroham fizeram previsões usando o conceito "para cada dia um ano".

Muitos outros rabinos judeus fizeram o mesmo, até mesmo durante o século 19, aplicando de diferentes formas para tentar prever a data da chegada do Messias. Uma coisa apenas se provou verdadeira, todas as previsões falharam.

Isso talvez indique o motivo dos judeus não acreditarem nos cálculos dos cristãos para a chegada do Messias ter se cumprido em Jesus. Pelo visto cada grupo escolhe como chegar nos resultados desejados usando diferentes pontos de partida.

Cristãos

Diferente dos judeus que começaram já no primeiro século, os cristãos só começaram a plicar o conceito "para cada dia um ano" bem mais tarde.

Essa prática apareceu por volta do século 12, começando por um abade católico italiano chamado Joachim of Floris (c. 1130-1202 E.C.). Ele usou o conceito não apenas para as datas de Daniel mas também os 1.260 dias encontrados em Apocalipse 11:3; 12:6. Baseado nestes cálculos várias datas foram definidas como importantes como 1260 E.C. e 1364 E.C., e mais tarde várias datas do século 16. Conforme essas datas chegavam e nada acontecia, eram feitas constantes mudanças e dadas novas interpretações.

As contas eram feitas a partir de vários acontecimentos como o nascimento de Cristo, outros a queda de Jerusalém, outros a partir do começo da Igreja Católica.

No século 19 tentavam usar estas datas para calcular a chegada do anticristo, parecia haver certa polêmica envolvendo o método "para cada dia um ano", alguns tentavam argumentar que este sempre havia sido usado pela igreja. Muitos estavam usando as profecias para encontrar diversos significados. Nesta época, Charles Maitland escreveu vários artigos se opondo ao conceito ser aplicado. Já um dos maiores apoiadores do conceito "para cada dia um ano", Reverendo E. B. Elliott, teve que admitir:

Durante os primeiros quatro séculos, os dias mencionados nas profecias de Daniel e Apocalipse com respeito ao anticristo eram interpretadas literalmente como dias, não anos, pelos pais da Igreja Cristã - E. B. Elliott, Horae Apocalypticae, 3a edição, Vol III p. 233, aqui em tradução livre

Ele concordou que o primeiro cristão a fazer essa aplicação foi Joachim of Floris, o qual contou os 1.260 dias a partir de Cristo mas sem definir exatamente uma data, mas parece que ele aguardava com expectativa que fosse acontecer algo em 1260 E.C.

Com Joaquim se deu início a uma tradição entre Cristãos de aplicar o conceito "para cada dia um ano" na interpretação de profecias. Nos próximos séculos inúmeras datas foram definidas para a segunda chegada de Cristo. Até mesmo Matin Luther e inúmeros reformadores acreditavam na aplicação deste conceito.

Tempos determinados das nações

Como vimos acima, Joachim of Floris foi o primeiro cristão a aplicar "para cada dia um ano" aos 1.260 dias de Apocalipse 11:3 que diz:

3 Farei as minhas duas testemunhas profetizar por 1.260 dias vestidas com pano de saco."

No versículo anterior, em Apocalipse 11:2 diz:

2 Mas, quanto ao pátio fora do santuário do templo, deixe-o de fora, sem medi-lo, porque foi dado às nações, e elas pisarão a cidade santa por 42 meses.

A previsão de Apocalipse é muito parecida com Lucas 21:24

24 E eles cairão pelo fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisada pelas nações até se cumprirem os tempos determinados das nações.

Por causa disso, os seguidores de Joaquim começaram a aplicar os "tempos determinados das nações" como sendo os 1.260 dias de Apocalipse 11:3, e aplicando o conceito "para cada dia um ano" chegam aos 1.260 anos. Eles entendiam que estas passagens se aplicavam a Igreja de Roma, ao final desse período de 1.260 anos iria acabar os tempos de aflição dela.

Outros aplicavam a Jerusalém, por volta dessa época ainda aconteciam as Cruzadas, então entendiam que ao final dos 1.260 anos os fiéis recuperariam a Terra Santa.

Mudando a data constantemente

Como essas datas vieram e passaram sem nada acontecer, o ponto de partida dos 1.260 precisava ser mudado.

Pelo final do século 14, Walter Brute, um dos seguidores de John Wycliffe, deu outra interpretação. Ele disse que os tempos das nações era um período em que a igreja estava dominada por ritos e costumes. Ele dizia que essa apostasia havia começado após a morte do último apóstolo, cerca de 100 E.C. e iriam continuar por 1.260 anos. No período em que Brute viveu, seus cálculos resultavam em uma data que já havia passado, então ele pensava que a segunda chegada de Cristo seria a qualquer instante.

Os grupos perseguidos pela igreja Católica logo começaram a identificar as profecias com estas datas como se aplicando ao papado. Estes grupos viam a si mesmos como a verdadeira igreja representada pela mulher em Apocalipse 12.

Com isso moveram a data de início para não ser mais da morte do último apóstolo mas sim para cerca do quarto século quando houve o aumento da autoridade da Igreja Romana.

Esse entendimento ajustado era comum entre os reformadores, entre eles John Napier (1550-1617). Ele datou o começo dos 1.260 anos para 300 E.C. ou 316 E.C. e o final dos tempos das nações seria na parte final do século 16.

George Bell

Como o tempo passou, o ponto de partida precisou mudar novamente. Agora para o sexto e sétimo séculos, quando o poder dos papas foi consolidado.

Em 1796 George Bell aplicou os 1.260 anos a partir de 537 ou 553 E.C. e previu a queda do anticristo, o Papa, acontecer em 1797 ou 1813. Ele escreveu isso durante a Revolução Francesa, não muito tempo depois o Papa foi levado cativo por tropas francesas e forçado ao exílio em 1798.

Por causa desses eventos, muitos entenderam eles como sendo o cumprimento dos 1.260 dias e o ano 1798 E.C. passou a ser considerado o fim dos "tempos determinados das nações" e que em 1799 E.C. começariam os últimos dias.

Esse entendimento, com pequenos ajustes, foi adotado por Charles Taze Russel e continua sendo aceito até hoje entre os Adventistas do Sétimo dia. A Watchtower por muitos anos depois do ano de 1914 E.C passar, datava o começo dos últimos dias como sendo em 1799 E.C.

Mudanças políticas e sociais

A Revolução Francesa de 1789-1799 teve profundo impacto quando ocorreu e se estendeu além de suas fronteiras, os historiadores reconhecem ela como um grande evento que trouxe mudanças na história da humanidade. Após a remoção violenta da monarquia se seguiram anos de guerras e conquista que só terminam com a derrota de Napoleão em 1815.

Isso reacendeu o interesse em cumprimentos proféticos, especialmente por alguns desses eventos terem sido preditos por alguns expositores de profecias da época.

Com tantas coisas acontecendo, muitos foram levados a acreditar que estavam mesmo vivendo nos últimos dias. Pessoas de diferentes origens se tornaram expositores de profecias e passaram a buscar significados para os dias encontrados nelas. Inicialmente isso ocorreu na Inglaterra mas logo se espalhou por toda a Europa e Estados Unidos, onde culminou no Millerismo.

Mesmo estas pessoas usando o mesmo método de "para cada dia um ano" e aplicando ele para as mesmas profecias, chegavam a diferentes interpretações. No livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, o autor Carl Olof Jonsson, apresenta a seguinte tabela na página 38 da 1a Edição em Português, onde mostra os diferentes resultados obtidos ao longo de 7 séculos:

ExpositorData de PublicaçãoAplicação (todas são datas E.C.)Observações
Joaquin de Flora11951-1260
Arnold de Vilanova1300c.74-1364Tempos dos Gentios = 1290 anos
Walter Brute1393134-1394
Martinho Lutero153038-1328Tempos dos Gentios = 1290 anos
A. Osiander1545412-1672
J. Funck1558261-1521
G. Nigrino1570441-1701
Arécio1573312-1572
John Napier1593316-1576
D. Pareus1618606-1866
J. Tillinghast1655396-1656
Cocceius1669292-1552
T. Beverley1684437-1697
P. Jurieu1687454-1714
R. Fleming, Jr.1701552-17941260 anos de 360 dias
Idem1701606-1848= 1242 anos julianos
William Whiston1706606-1866
Daubuz1720476-1736
J. Ph. Petri1768587-1847
Lowman1770756-2016
John Gill1776606-1866
Hans Wood1787620-1880
J. Bichenno1793529-1789
A. Fraser1795756-19981242 anos julianos
George Bell1796537-1797
Idem1796553-1813
Edward King1798538-1798
Galloway1802606-18491242 anos julianos
W. Hales1803620-1880
G. S. Faber1806606-1866
W. Cuninghame1813533-1792
J. H. Frere1815533-1792
Lewis Way1818531-1791
W. C. Davis1818588-1848
J. Bayford1820529-1789
John Fry1822537-1797
John Aquila Brown1823622-18441260 anos lunares

A tabela apresenta uma amostra das muitas aplicações diferentes dos 1.260 e 1.290 "anos-dias", desde Joaquim de Flora em 1195 até John Aquila Brown em 1823. Seria fácil ampliar a tabela para incluir expositores posteriores a Brown. Contudo, a tabela termina nele, pois nesta época começou a surgir outra interpretação dos tempos dos gentios, na qual os 1.260 anos foram duplicados para 2.520 anos.

Interessante observar que uma boa parte das interpretações eram feitas próximas das datas de quem as interpretou viveu. Acredito ser da natureza humana querer acreditar que o período em que vive tenha algum significado e importância, parece ter sido isso que estes homens fizeram.

Conforme vemos na citação acima, foi durante esse fervor que uma nova interpretação dos tempos das nações foi dada, onde pela primeira vez os 1.260 anos foram dobrados para serem 2.520 anos.

John Aquila Brown

John Aquila Brown no começo dos 1800 publicou uma explicação sobre os 2.300 dias de Daniel 8:14 e previu o final deles para 1843 (depois 1944). Brown publicou originalmente sua cronologia num artigo do mensário londrino O Observador Cristão, de novembro de 1810.

Esse entendimento foi usado por Willian Miller, um pioneiro do movimento Adventista.

Brown também foi o originador da interpretação dos sete tempos de Daniel capítulo 4 que produz os 2.520 anos usando "para cada dia um ano".

Ele publicou essa interpretação pela primeira vez em 1823 no seu trabalho de dois volumes The Even Tide or Last Triumph of the Blessed and Only Potentate, the King of Kings, and Lord of Lords. Diferente de outros expositores que vieram depois dele, Brown não associava os "sete tempos" com Levítico 26:12-28, mas apenas com o livro de Daniel.

Ele calculou os 2.520 anos iniciando no primeiro ano do reinado de Nabucodonosor, em 604 A.E.C até o ano de 1917 E.C., quando a a plena glória do reino de Israel seria aperfeiçoada.

Esse é o mesmo método usado pela organização hoje para calcular os 2.520 anos, conforme vimos no começo, a diferença está apenas em qual data devemos começar a contagem.

💡

25 anos antes de Charles Taze Russel nascer, 47 antes dele formar seu grupo de estudo da Bíblia e mais de meio século antes do livro Three Worlds onde Russel identifica o ano 1914 como o fim dos tempos das nações John Aquila Brown publica seu cálculo sobre os 2.520 anos

O livro Os Tempos dos Gentios Reconsiderados foi publicado originalmente em inglês em 1983. Apenas uns 10 anos depois a organização pela primeira vez reconheceu que a origem do cálculo de 2.520 anos veio de John Aquila Brown em 1823. No livro Testemunhas de Jeová — Proclamadores do Reino de Deus na página 134 diz:

Já em 1823, John A. Brown, cuja obra foi publicada em Londres, Inglaterra, calculara os "sete tempos" de Daniel 4 como sendo de 2.520 anos de duração. Mas ele não discerniu claramente a data em que o período profético começou, ou quando terminaria. Contudo, relacionou esses "sete tempos" com os Tempos dos Gentios de Lucas 21:24.

Ele na verdade definiu sim quando começava e terminava, apenas não usou as mesmas datas que a organização usa, no Proclamadores somos induzidos a concluir que ele não discerniu uma data para o começo e final. Também nos diz que Brown relacionou essa data com os tempos das nações de Lucas, mas aqui erram por dizer que já fez isso em 1823. No Os Tempos dos Gentios Reconsiderados vemos que essa conexão com Lucas só é feita em 1826.

O cálculo de Brown para chegar aos 2.520 anos foi fundamental para várias interpretações modernas da profecia de Daniel capítulo 4.

Conexão dos 2.520 anos com os tempos dos gentios

Não demorou para alguns começarem a fazer a conexão entre o tempo dos gentios e os 2.520 anos de Brown. Assim como os cálculos anteriores usando os 1.260 dias, com diferentes abordagens e resultados.

Na Albury Park Prophetic Conference (que ocorreu anualmente entre 1826 e 1830), William Cuninghame em 1826 usa como ponto de partida quando as dez tribos são levadas em cativeiro por Salmaneser, ele data isso em 728 A.E.C. e chega no ano 1792 E.C., uma data que já havia passado. Ele dobra os 1.260 dias de Apocalipse mas não conecta com os sete tempos de Daniel. Mais tarde, nas conversas da conferência, Henry Drummond conecta os 2.520 anos com os sete tempos de Levítico 26:18, ele corrige a data de começo para 722 A.E.C. e chega em 1798 E.C., um resultado parecido com George Bell.

Muitos comentaristas bíblicos na época contavam os sete tempos dos gentios a partir do cativeiro de Manassés, o qual eles datavam para 677 A.E.C. Isso era feito propositalmente para se encaixar com o entendimento que já tinham dos 2.300 dias-ano para chegarem em 1843 ou 1844. Um que fazia isso era John Fry (1775-1849).

Em 1835 William W. Pym chega na data de 1847, ele usa tanto Levítico capítulo 26 como Daniel capítulo 4 para os cálculos.

Edward Bishop Elliott

Edward Bishop Elliott foi um dos maiores milenaristas do século 19.

Foi com ele que vemos pela primeira vez o ano de 1914 ser mencionado. No seu tratado Horae Apocalypticae ele reconhece os 2.520 anos a partir de 727 A.E.C. até 1793 E.C. mas adiciona:

Naturalmente, se for calculado desde a própria ascensão de Nabucodonosor e invasão de Judá, em 606 A.C., o fim será bem mais tarde, em 1914 A.D.; apenas meio século, ou período de jubileu depois de nossa provável data para o início do Milênio - E. B. Elliott, Horae Apocalypticae, 1a edição

Notar que Elliott entende 606 A.E.C. como a data de acensão de Nabucodonosor e não da queda de Jerusalém como fizeram mais tarde Barbour e Russel, os quais dataram 606 A.E.C. como o 18 ano do reinado de Nabucodonosor.

William Miller

Com os vários estudos de profecias acontecendo na Inglaterra, muitos destes chegaram até os EUA e se espalharam ali influenciando muitos dos pregadores. Um destes foi o pegador batista William Miller e seus associados.

Eles aguardavam o ano 1843 como o ano da segunda chegada de Cristo, entre 50.000 e 200.000 pessoas eventualmente aceitaram os ensinos de Miller.

Virtualmente todas as posições mantidas pelo movimento haviam sido já ensinadas por outros de sua época. Miller simplesmente seguiu outros em definir o fim dos dos tempos das nações como sendo 1843. Na First General Conference em Boston em 1840 ele usa os sete tempos começando em 677 A.E.C. e terminando em 1843 E.C. Define como a segunda chegada de Cristo não passando de 1844.

Essas datas vieram e passaram sem nada acontecer, isso ficou conhecido como o Grande Desapontamento de 1844.

Alguns do movimento admitiram abertamente que a previsão estava errada, entre eles George Storrs que mais tarde se associou com Russel. Já outros insistiram que o tempo estava certo, mas o evento que aguardavam estava errado. Isso acaba se tornando uma desculpa comum, ter esperado "a coisa errada na época certa."

Esta veio a ser a posição adotada pelo grupo que depois se torna os Adventistas do Sétimo Dia. Eles declaram que em vez de Jesus descer dos céus, ele entra no santíssimo dos céus como o grande sacerdote da humanidade para introduzir o anti típico dia de expiação. Esse grupo que se separa do restante dos Adventistas em 1840 causa a primeira grande divisão dentro do movimento original.

Outros líderes mileritas que aguardavam 1844 afirmaram que Jesus havia de fato chegado nesse ano, mas de forma espiritual e invisível.

Diagrama de Miller

Abaixo um diagrama que mostra os cálculos de Miller onde ele marca a segunda chegada de Cristo para 1843

Diagrama de Miller

Notem na parte superior direita o valor 2520 se referindo aos "sete tempos" e o cálculo 2520 - 677 = 1843.

Resultado

Após 1844 o movimento milerita começou a se dividir em diversos grupos Adventistas.

Com isso houve uma proliferação de novas datas sendo estabelecidas como 1845, 1846, 1847, 1850, 1851, 1852, 1853, 1854, 1866, 1867, 1868, 1870, 1873, 1975, e assim por diante. Todas essas datas e os que as promoviam causaram ainda mais divisão.

Um dos líderes dos Adventistas chamado Jonathan Cummings declarou em 1852 que havia recebido "novo entendimento" da cronologia e que o segundo advento seria em 1854. Muitos mileritas se juntaram a ele.

Grupos como os Adventistas do Sétimo dia e Testemunhas de Jeová, entre outros, passaram a adotar ensinos do movimento milerita como:

  • condicionalismo, a imortalidade não é inerente mas condicional, o destino final dos que são rejeitados por Deus é a destruição eterna não o tormento
  • a trindade também se torna um problema para alguns destes grupos

Muitos dos desenvolvimentos vindos do movimento milerita já haviam acontecido quando o jovem Charles Taze Russel inicia seu grupo de estudantes da bíblia. A partir de 1860 Russel entra em contato com alguns dos grupos de Adventistas, estabelecendo contato próximo com alguns dos ministros e lendo alguns de seus materiais como a revista Bible Examiner de George Storrs. Gradualmente ele e seus associados adotaram seus ensinos centrais, incluindo o condicionalismo e anti trindade e a maioria dos ensinos sobre "a era por vir".

Os Estudantes da Bíblia são então um produto dos grupos de Adventistas e do movimento milerita.

Mas qual a principal fonte adotada por Russel para chegar a data de 1914?

Dr. Nelson H. Barbour

Barbour era médico e pregador Adventista, em 1843 aos 19 anos se junta ao movimento milerita de William Miller. Foi através deste movimento que ele também conheceu Jonas Wendell, o Pastor Adventista que despertou novamente em Russel o interesse pela Bíblia, era Wendell que estava pregando quando Russel passava em uma rua.

Após o Grande Desapontamento de 1844, Barbour deixou completamente sua religião e se muda para a Austrália onde se torna um minerador na corrida pelo ouro que acontecia lá.

Em 1859 ele retorna para os EUA mas passa antes por Londres. Durante essa viagem seu interesse por profecias retorna. No percurso de navio um pastor recomenda ele fazer um estudo sistemático das profecias bíblicas. Ele faz isso e acredita ter encontrado um erro crucial no entendimento de Miller.

Miller começava os 1.260 dias de anos de Apocalipse 11 em 538 E.C. Já os 1.290 e 1.335 dias-anos de Daniel capítulo 12, 30 anos antes em 508 E.C. Não deveriam todas elas terem o mesmo ponto de partida?

Se todos começassem em 538 E.C. teríamos:

  • 1.290 dias-anos acabando em 1828
  • 1.335 dias-anos acabando em 1873, e não em em 1843 como Miller havia predito

Quando Barbour chegou em Londres ele foi para a biblioteca do British Museum. Ali encontrou os trabalhos de Elliot sobre profecias, o Horae Apocalypticae. Nesse livro era reproduzia uma tabela preparada pelo amigo de Elliot, o reverendo Christopher Bowen, nela mostrava que 5979 anos desde a criação do homem haviam completado em 1851 E.C. Ao adicionar 21 anos, Barbour descobre que 6000 completariam em 1873 E.C., isso firmou ainda mais seus cálculos dessa data em sua mente, viu como uma confirmação dos 1.335 anos terminarem em 1873 E.C.

Ao retornar para os EUA ele tenta convencer outros adventistas dos seus achados. A partir de 1868 começa a pregar publicamente e publicar suas descobertas. Muitos dos seus artigos sobre cronologia foram publicados no World’s Crisis e no Advent Christian Times, os dois periódicos principais da Advent Christian Association de sua época.

Em 1870 ele publicou um panfleto de 100 paginas chamado Evidências da Vinda do Senhor em 1873; ou o Grito da Meia-Noite, original em inglês Evidences for the Coming of the Lord in 1873; or the Midnight Cry.

Muitos adventistas passaram a adotar essa nova data. Não foi algo difícil pois era uma data já conhecida, até Miller já havia citado antes esse ano. Em 1853 o adventista Joseph March em Rochester, N.Y., concluiu como outros que o tempo do fim era um período de 75 anos iniciando em 1798 e terminando em 1873.

Ainda em 1870, o conhecido adventista Jonas Wendell inclui a cronologia de Barbour no seu panfleto The Present Truth; or, Meat in Due Season.

Em 1873 Barbour começa a publicar sua próprio periódico chamado The Midnight Cry, and Herald of the Morning. Que em 3 meses circula 15.000 cópias.

Quando o ano de 1873 havia quase passado, Barbour ajusta para o segundo advento ocorrer no outono de 1874. Quando essa data também chega e nada ocorre começa a se questionar, não encontrando nenhum erro em sua cronologia chega a conclusão:

foi logo descoberto que a expectativa da segunda chegada de Jesus ser na carne era um erro - A Torre de Vigia de Sião, outubro e novembro de 1881, pág. 3 (nas reimpressões, pág. 289, em inglês).

Presença invisível

Assim como o movimento milerita, aqui temos o retorno do conceito de uma presença invisível.

Quem propõe que esse conceito seja aplicado novamente, agora para o ano de 1874, é um leitor da Midnight Cry chamado B. W. Keith. Podemos ver isso mais tarde na A Torre de Vigia de Sião, de fevereiro de 1881 na página 3 (reimpressões na página 188, em inglês). A seguir alguns trechos em tradução livre:

Justamente neste período o Irmão Keith, (um de nossos contribuidores) foi usado pelo Senhor para lançar outro raio de luz no assunto, o que trouxe ordem para a confusão, e causar que que toda "luz" anterior brilhar dez vezes mais. O Irmão K. vinha lendo cuidadosamente Mateus capítulo 24, usando a "Emphatic Diaglott", uma nova e muito precisa tradução palavra por palavra do Novo Testamento; quando ele chegou nos versículos 37 e 39 ficou muito surpreso em descobrir que dizia o seguinte: "Assim como nos dias de Noé, assim será a presença do filho do homem..."

Sua surpresa foi, ao descobrir que a palavra grega parousia que significa presença, havia em nossa versão comum sido impropriamente traduzida como chegada, mas a nova tradução mostrou que não era o ato de chegada que se parecia com os dias de Noé, mas que assim como nos dias de Noé as massas de pessoas "não sabiam", assim também seria no tempo da presença de Jesus no segundo advento...

Isso foi comunicado para outros dos desapontados, e tendo em mente que os argumentos sobre tempos referenciados acima foram achados sem falha e inalterados e provam que Jesus chegou no outono de 1874 - veio o pensamento - É possível que Jesus em sua segunda chegada não venha na carne? É possível que sua presença tenha começado no tempo indicado nestas profecias, e mesmo assim continuamos comendo e bebendo, etc., e não soubemos de sua presença?

Vemos que Keith ao ler a tradução Emphatic Diaglott percebe que ali usa presença em vez de chegada. Conclui então que a data em si de 1874 estava correta, a expectativa do que iria ocorrer que estava errada. Introduz mais uma vez o conceito de presença invisível mas agora apoiado pelo que o relato dizia.

Muitos nessa época passam a acreditar que o segundo advento de Cristo iria ser em duas etapas, a primeira sendo invisível.

Na A Torre de Vigia de Sião, outubro e novembro de 1881, página 289 nas reimpressões. A seguir alguns trechos em tradução livre:

Era evidente então que a maneira que aguardavam Jesus estava errada, no entanto o tempo, conforme indicado pela "Midnight Cry", estava correto, e que o Noivo chegou no outono de 1874, e ele apareceu para os olhos de fé - visto pela luz da lâmpada - a Palavra. Depois foi visto que os trinta anos de demora entre 1844 e 1874 eram o exato paralelo dos 30 anos de demora do primeiro advento, do período em que os homens sábios visitaram o bebê até Jesus se colocar de pé no Jordão e ser ungido pelo Espírito Santo para seu trabalho, aos 30 anos de idade. (Atos 10:38)

Acima apresentam um paralelo entre a visita dos sábios quando Jesus nasceu até seu batismo ser de 30 anos, com o período entre 1844 e 1874 também tendo o mesmo período, dessa forma mantendo ainda a data de Miller por algum motivo como sendo significativa.

Como Barbour e seus associados não viam nenhum erro em seus cálculos chegam a conclusão que só pode ser este o caso, a presença invisível de Cristo havia mesmo iniciado em 1874 mas de forma invisível. Mais uma vez haviam esperado a coisa errada no tempo certo, assim como Miller.

Muitos dos leitores da The Midnight Cry, and Herald of the Morning não compram essa explicação de presença invisível e logo o número de leitores caem de 15.000 para cerca de 200.

Barbour estava convencido que o Milênio já havia iniciado e o título da revista não era mais apropriado. O periódico Midnight Cry que havia encerrado sua publicação em Outubro de 1874 recomeça em Junho de 1875 como Herald of the Morning.

Interessante notar que em 1880 Barbour abandona a data de 1874 como sendo o começo da presença de Cristo e passa a acreditar que iria ocorrer em alguma data não conhecida no futuro, que deviam parar de ficar fazendo previsões. Esse é um dos motivos dele e Russel terem se separado.

Barbour e o ano de 1914

Como vimos, o movimento milerita pregava o ano de 1844 como sendo a segunda chegada de Cristo, e disso surgiu o Adventismo. Como nada aconteceu naquele ano, os adventistas foram em busca de novas datas. Um destes foi N. H. Barbour.

Barbour adotou muitas das interpretações de John Aquila Brown que citamos acima.

Mas Barbour mudou o começo dos 2.520 anos para 606 A.E.C. e com isso chegando ao ano de 1914 E.C. O que era um erro de cálculo já que somaria 2519 anos, ele deveria ter chegado em 1915 E.C.

Vimos acima que o primeiro a chegar em 1914 foi Edward Bishop Elliott mas de outra forma, ele usava 606 A.E.C como primeiro ano do reinado de Nabucodonosor, não como o da queda de Jerusalém.

Em 1873 Barbour começou a publicar uma revista para os adventistas chamada The Midnight Cry e mais tarde outra chamada Herald of The Morning, na capa dessa na edição de julho de 1878 vemos o termo "Times of the Gentiles" (tempos dos gentios, ou nações conforme usado hoje pela organização).

Em um dos primeiros números da Herald of the Morning, na edição de Setembro de 1875 na página 52, Barbour publica seus cálculos indicando que os tempos das nações iriam terminar em 1914. A seguir alguns trechos em tradução livre:

Eu acredito que a terra [ou cosmos] permanece para sempre; mas que as eras, [aionies] estão continuamente passando. Que agora estamos no final da era do evangelho, e começando a era dos "tempos de restituição de todas as coisas". Que esse período de transição é chamado de "o tempo da colheita". E que começou no outono de 1874, e que irá terminar na primavera de 1878; medindo 3 anos e meio. E que os eventos desse tempo de colheita são, primeiro, a ressurreição dos mortos através de Cristo; segundo, ajuntar o joio em feixes; terceiro e último, a transformação dos santos vivos, e o ajuntamento deles, juntamente com os levantados, para se juntar ao Senhor no ar.

Eu acredito que embora a distribuição do evangelho irá terminar em 1878, os Judeus não serão restaurados a Palestina, até 1881; e que os "tempos dos gentios", ou seja seus sete tempos proféticos, de 2520, ou o dobro de 1260 anos, os quais começaram quando Deus entregou tudo nas mãos de Nabucodonosor, 606 A.E.C; não acabam até 1914 E.C; ou 40 anos a partir daqui.

Eu acredito que durante estes 40 anos que acabaram de começar, "o tempo de tribulação, como nunca antes houve desde que existe uma nação", irá se cumprir. E enquanto isso, o reino de Deus será estabelecido, "e quebrar em pedaços, e consumir todos esses reinos [Nações];" "e a pedra se torna um grande monte, e preenche toda a terra," e inaugura a glória da era milenar.

Na Herald of the Morning de Outubro de 1875, páginas 74-76 tem uma longa explicação dos cálculos. Abaixo alguns trechos da página 74 em tradução livre:

Em Lev. 26; o período "sete tempos" é repetido quatro vezes como o tamanho da medida da punição deles.

Mas "nenhuma profecia é de qualquer interpretação privada;" ou para ser explicada sozinha. No seu cumprimento, aprendemos que a metade dos "sete tempos" é o período em que a igreja do evangelho terá de fugir de diante de seus inimigos (Apo. 12:14). Compare também o ver. 6 e 13:5. O mesmo período é também referenciado em Dan. 7:25; e 12:7;

Conforme vimos antes, John Aquila Brown não conecta os sete tempos com Levítico, quem faz isso é Henry Drummond na Albury Park Prophetic Conference. Assim como outros em sua época, vemos que Barbour usa Daniel e Levítico para definir os "sete tempos" como tendo importância profética. Atualmente a Watchtower não utiliza mais Levítico em sua explicação de como chegar ao ano 1914 E.C.

A Herald of the Morning de Outubro de 1875 segue:

Um mês Bíblico são 30 dias. Veja Gen. 7:11,24; e 8:3,4; onde 150 dias são cinco meses.

Aqui trás essa ideia de um mês bíblico, mas não existe nenhum calendário, nem o dos Judeus, que use 12 meses fixos de 30 dias. Sem essa premissa o ano de 1914 E.C. não funciona, já que precisamos de 12 meses x 30 dias x 7 tempos = 2.520 anos.

Herald of the Morning de Outubro de 1875, página 76, a seguir alguns trechos em tradução livre:

Os 70 anos de desolação de Jerusalém terminaram no primeiro ano de Ciro, 536 A.E.C;

A cronologia de Usher está correta no primeiro ano de Ciro; seus erros, onde ele difere 124 anos da cronologia da Bíblia, ocorrem antes desta data. Como o cativeiro começou setenta anos antes de 536 A.E.C, sua data seria 606 A.E.C. E neste foi o começo dos "tempos das Nações"

Como três tempos e meio proféticos são 1260 anos, "sete tempos" medem 2520 anos. Por isso, dos 2520 anos em que Babilônia se torna o império universal, e o reino de Deus terminou, "os tempos das nações" vão terminar, e Jerusalém cessa de ser pisoteada debaixo de seus pés.

Vemos aqui que a base para se chegar no ano de 606 foi os 70 anos proféticos que Jerusalém permaneceria desolada. Barbour usou 536 A.E.C como o primeiro ano de Ciro e voltando 70 anos chegou em 606 A.E.C., e define este como dando incio aos sete "tempos das nações". Assim como outros antes dele, utiliza os 1.260 dias-anos de Apocalipse como sendo 3,5 tempos, dobrando seu valor para chegar aos 7 tempos = 2.520 dias-anos.

Aqui Barbour comete uma falha, não sei se já em seus dias, mas atualmente é tido como a data do começo do reinado de Ciro II o Grande, que libertou os Judeus, como sendo em 559 A.E.C., e que ele conquista Babilônia no ano de 539 A.E.C. Nenhuma dessas datas bate com o ano 536 A.E.C. que Barbour diz ter sido o primeiro ano de Ciro.

Atualmente

Pelo visto em algum ponto a Watchtower atualiza essa data para não ser no primeiro ano de Ciro, mas sim o ano em que os primeiros Judeus chegam em Jerusalém, datam este evento como sendo em 537 A.E.C. Também datam o início da reconstrução do templo para por volta de 536 A.E.C., quando teriam terminado seu alicerce. Se os primeiros judeus chegaram em Jerusalém em 537 A.E.C, e considerando os 70 anos de exílio, é possível manter o ano 607 A.E.C. como sendo a queda de Jerusalém. Ver A Sentinela, Março de 2022, página 14, paragrafo 2.

Ainda na Herald of the Morning de Outubro de 1875, página 76, a seguir alguns trechos em tradução livre:

Cristo veio a primeira vez e começou seu trabalho por volta de 30 E.C; ou quarenta anos antes da queda final de Jerusalém; que ocorreu por volta de 70 E.C. E encontramos o período de quarenta anos de forma proeminente em várias pates da Bíblia, tanto em tipos como de outra forma. O mundo foi destruído durante 40 dias no dilúvio; Cristo esteve na terra por 40 dias após sua ressurreição, e muitos outros quarenta são dados.

E "os tempos das nações" expiram então: De 606 A.E.C, adicione 1874 E.C; ... ; e mais 40 anos e temos o período total, então; 606, 1874, e 40, dão 2520.

Barbour então chega no ano de 1914 E.C. usando um cálculo de 606 + 1874 + 40 = 2.520 anos. Com isso ele mantém a importância de 1874 E.C. como sendo o início da presença invisível de Cristo e que após 40 anos culmina com o final dos "tempos das nações" em 1914 E.C. Aqui vemos uma tentativa de dar significado profético para períodos de 40 anos.

Ainda na Herald of the Morning de Outubro de 1875, página 76, a seguir um trecho em tradução livre:

...e é durante estes 40 anos, que o reino será estabelecido, as nações subjugadas, e a "pedra se torna um grande monte, e enche toda a terra" "e todas as pessoas, e nações e línguas irão servir e obedecer ele"

A expectativa de Barbour era que nos 40 anos, entre 1874 E.C. e 1914 E.C., o Reino iria ser estabelecido e então assumir total controle sobre a terra.

Como estes ensinos vieram a influenciar a Watchtower?

Charles Taze Russel

Neste ponto já percebemos que a organização não foi a primeira a declarar o final dos "tempos das nações" sendo em 1914 E.C.

O próprio Russel admitiu ter adotado a cronologia de Barbour, que por sua vez havia adotado boa parte dos ensinos de John Aquila Brown e outros.

Russel sabia que Jonas Wendell e outros adventistas aguardavam a segunda chegada de Cristo em 1873 E.C., ele inicialmente detestava a ideia de fixar datas, mas mais tarde em 1876 começa a mudar de ideia.

A Sentinela de Julho de 1906, na página 3822 das reimpressões, a seguir alguns trechos em tradução livre:

Foi por volta de janeiro de 1878 que minha atenção foi especialmente direcionado para o assunto de tempos proféticos, e como se relaciona a essas doutrinas e esperanças. Veio dessa forma: Eu recebi um periódico chamado The Herald of The Morning, enviado por seu editor, Sr. N. H. Barbour. Quando eu abri imediatamente identifiquei com o Adventismo pela imagem na capa, e examinei com certa curiosidade para ver qual tempo eles iriam definir em sequência para a queima do mundo. Mas julgue minha surpresa e gratificação, quando descobri pelo seu conteúdo que o Editor estava começando a ter seus olhos abertos nos assuntos que por alguns anos haviam trazido alegria para nossos corações aqui em Allegheny - que o objetivo do retorno do Senhor não é destruir, mas abençoar todas as famílias da terra, e que sua chegada seria como ladrão, e não na carne, mas como criatura espiritual, invisível para a humanidade; e que o ajuntamento da sua igreja e separação entre o "trigo" e o "joio" iria progredir no final dessa era sem o mundo tomar conhecimento.

Eu me alegrei em encontrar outros chegando a mesma posição avançada, mas fiquei surpreso de ver a declaração cuidadosa, de que o editor acreditava que as profecias indicavam que o Senhor já se encontrava presente no mundo (sem ser visto e invisível), e que o trabalho da colheita para ajuntar o trigo já estava vencido, - e que esse ponto de vista era garantido pelas profecias que poucos meses antes ele supunha ter falhado.

Aqui estava um novo pensamento: Poderia ser que as profecias sobre tempos que por muito tempo eu detestava, por causa de seu mau uso pelos Adventistas, eram realmente para indicar quando o Senhor iria estar invisivelmente presente para estabelecer seu reino - uma coisa a qual eu vi claramente não poderia ser conhecida de nenhuma outra forma? Pareceu, para dizer o mínimo, razoável, muito razoável, esperar que o Senhor iria informar seu povo sobre o assunto - especialmente por ele ter prometido que os fiéis não ficariam no escuro com o mundo, e embora o dia do Senhor iria vir sobre todos os outros como ladrão na noite (furtivamente, desprevenido), não seria assim para os vigilantes, diligentes santos. - 1 Tess. 5:4

No artigo notamos que até então Russel não dava importância para cronologia. Os adventistas na época eram conhecidos por ficar estabelecendo novas datas para o fim do mundo e até então Russel detestava isso. Ele ficou impressionado que Barbour havia chegado a mesma conclusão que ele e seu grupo de estudantes, que a vinda do senhor não era para causar destruição mas sim abençoar seus servos e que viria como ladrão de forma invisível, não na carne.

Ao ler a revista de Barbour ficou impressionado e a explicação deste passou a fazer sentido. Que embora o dia viria como ladrão sobre a maioria isso não devia acontecer com os Santos, talvez Deus tivesse deixado uma mensagem para eles.

Naquela época os adventistas calculavam os 6000 anos da humanidade completando em 1873 e que então viria a destruição. Russel passou a se questionar se as profecias relacionados com tempos talvez fossem importantes, mas que os adventistas as aplicavam de forma errada.

Como vimos, Barbour acreditava que a presença de Cristo havia começado de forma invisível em 1874, nesse mesmo ano começando o período da colheita. Embora Barbour tenha chegado a conclusão da presença invisível apenas pois 1874 E.C. veio e passou sem o mundo acabar.

Russel imediatamente escreve para Barbour e mais tarde em 1876 pagou para Barbour visitar ele e explicar na Bíblia que as profecias indicavam 1874 como o início da presença do Senhor e da colheita. Isso aconteceu e Russel diz que as evidências o satisfizeram.

Ele não apenas ficou convencido de que a presença de Cristo havia começado em 1874, mas aceitou todos os cálculos de Barbour sobre profecias, incluindo o sobre o final dos "tempos das nações" ser 1914.

Depois desse encontro que Russel passa a dar importância as profecias sobre cronologia. Ele se tornou assistente de Barbour na Herald of the Morning e a partir de então profecias de tempos passaram a ter destaque nos escritos de Russel e na A Torre de Vigia de Sião que ele viria a fundar.

Também após o encontro com Barbour que Russel publica um artigo na The Bible Examiner com o título "Tempos dos Gentios: Quando terminam?". Essa revista era publicada por seu amigo George Storrs, outro adventista. Neste artigo publicado na edição de Outubro de 1876 na página 27, ele estabeleceu a data de 1914, a qual Barbour havia chegado, como sendo o cumprimento dos sete tempos de Levítico 26:28 e Daniel 4. A seguir alguns trechos em tradução livre:

Acreditamos que Deus nos deu a chave... Não achamos parte da chave em Lev. 26: 27,33? ... Comparando essas Escrituras nós aprendemos que Deus espalhou Israel por um período de sete tempos.

Nossa próxima pergunta naturalmente é. O quão longo são sete tempos? Deus em sua palavra fornece para nós alguma pista da qual determinar o tamanho deste período? Sim, em Apocalipse aprendemos que três tempos e meio, 42 meses, e 1260 dias proféticos, anos literais, são o mesmo (por anos tem assim sido aceito pela igreja) e se cumpriu dessa forma: se três tempos e meio são 1260 anos, sete tempos seria o dobro disso, ou seja, 2520 anos. Quando começou nossa era Cristã, 606 anos deste tempo haviam passado, (70 anos de cativeiro e 536 de Ciro até Cristo) os quais reduzidos de 2520, mostram que os sete tempos irão terminar em 1914 E.C.;

Russel, assim como Barbour e outros antes dele, também usa Levítico 26 na explicação sobre os sete tempos, algo que não vemos mais sendo utilizado hoje pela Watchtower. Também podemos notar que Russel usa o mesmo cálculo e argumentos de Barbour para chegar em 1914 E.C., inclusive o erro em definir que o primeiro ano de Ciro teria sido em 536 A.E.C.

O artigo finaliza:

Vamos perguntar, não responder, outra questão: Se os tempos das nações terminam em 1914 E.C. (e existem muitas outras evidências mais claras apontando para o mesmo período) e nos é dito que será com furor derramado; um tempo de tribulação como nunca antes, e nunca haverá igual, um dia de ira, etc, quanto tempo até a igreja escapar?

Irmãos, o ato de Cristo levar como sua noiva, é evidentemente, um dos primeiros atos no Julgamento; pois o julgamento precisa começar na casa de Deus.

O que eles esperavam que fosse acontecer em 1914? Aguardavam que até 1914 E.C. a grande tribulação ocorreria e que os ungidos seriam levados. A Watchtower atualmente busca mostrar uma imagem de que eram mais cautelosos, que só aguardam algo acontecer em 1914, mas que não tinham certeza do que.

O que iria acontecer até 1914

Embora acreditavam que a presença de Cristo havia começado em 1874 E.C. de forma invisível, com os eventos tendo acontecido nos céus, o mesmo não era esperado para 1914 E.C.

No livro The Time is at Hand, publicado em 1889 e mais tarde conhecido como o Volume II dos Studies in the Scriptures, nele Russel diz que 1914 seria o limite mais distante do tempo para os humanos governarem. Ele então enumera o que esperava acontecer até 1914:

Neste capítulo apresentamos evidência bíblica que provam que o fim completo dos tempos dos gentios, ou seja, o pleno fim de seu arrendamento de domínio, será alcançado em 1914 E.C.; e que essa data será o limite mais distante do domínio de homens imperfeitos. E observe-se que, se isso for demonstrado ser um fato firmemente estabelecido pelas Escrituras, isso provará:

Em primeiro lugar, que naquela data o Reino de Deus, pelo qual nosso Senhor nos ensinou a orar, dizendo: "Venha o teu reino", obterá o controle total e universal, e que então será "estabelecido", ou firmemente estabelecido, na terra, nas ruínas das instituições atuais.

Em segundo lugar, provará que aquele cujo tem o direito de tomar para si o domínio estará então presente como o novo Governante da terra; e não apenas isso, mas também provará que ele estará presente por um período considerável antes dessa data; porque a derrubada desses governos gentios é causada diretamente por ele despedaçá-los como um vaso de oleiro (Salmo 2:9; Ap 2:27), e estabelecer em seu lugar seu próprio governo justo.

Em terceiro lugar, provará que algum tempo antes do final de 1914 E.C. o último membro da Igreja de Cristo divinamente reconhecida, o "sacerdócio real", "o corpo de Cristo", será glorificado com a Cabeça; porque cada membro deve reinar com Cristo, sendo co-herdeiro com ele do Reino, e não pode ser totalmente "estabelecido" sem todos os membros.

Em quarto lugar, provará que a partir daquele momento Jerusalém não será mais pisada pelos gentios, mas se levantará do pó do desfavor divino, para honra; porque os "Tempos dos Gentios" serão cumpridos ou completados.

Em quinto lugar, provará que nessa data, ou antes, a cegueira de Israel começará a ser afastada; porque sua "cegueira em parte" era para continuar apenas "até que a plenitude dos gentios tenha entrado" (Rom. 11: 25), ou, em outras palavras, até que o número completo dentre os gentios, que serão membros do corpo ou noiva de Cristo, seriam totalmente selecionados.

Em sexto lugar, provará que o grande "tempo de tribulação, como nunca houve desde que houve nação", atingirá seu ápice em um reino mundial de anarquia; e então os homens aprenderão a ficar quietos e a saber que Jeová é Deus e que ele será exaltado na terra. (Sal. 46:10) A condição das coisas mencionadas em linguagem simbólica como ondas furiosas do mar, terra derretida, montanhas que caem e céus em chamas passarão então, e os "novos céus e nova terra" com suas bênçãos pacíficas começam a ser reconhecidos pela humanidade atribulada. Mas o Ungido do Senhor e sua autoridade legítima e justa serão primeiro reconhecidos por um grupo de filhos de Deus enquanto passam pela grande tribulação - a classe representada por m e t no Diagrama das Eras (veja também as páginas 235 a 239, Vol. 1.); depois, bem no final, pelo Israel carnal; e, finalmente, pela humanidade em geral.

Sétimo, provará que antes dessa data o Reino de Deus, organizado em poder, estará na terra e então ferirá e esmagará a imagem Gentia (Dan. 2:34) - e consumirá totalmente o poder desses reis. Seu próprio poder e domínio serão estabelecidos tão rápido quanto ele esmaga suas variadas influências e agências e dispersa os "poderes constituídos" - civis e eclesiásticos - ferro e barro.

Os trechos acima são do Studies in the Scriptures - Series II - The time is at Hand em sua edição 534th Thousand, páginas 76-78. Em edições posteriores essas previsões são alteradas para serem mais moderados no que era esperado para o ano de 1914.

O quão confiante Russel estava em sua cronologia?

Podemos ver isso na A Torre de Vigia de Sião de 15 de Julho de 1894 na página 226 (reimpressões 1677). A seguir em tradução livre o artigo "Pode ser adiado até 1914?":

Dezessete anos atrás as pessoas disseram, concernente as características dos tempos apresentados no Millennial Dawn, Eles parecem razoáveis em muitos aspectos, mas certamente nenhuma mudança tão radical pode ocorrer entre agora e o final de 1914: se você tivesse provado que viriam em cerca de um século ou dois, pareceria muito mais provável.

Que mudanças ocorreram desde então, e que velocidade é ganha a cada dia?

"O velho está passando rapidamente e o novo está chegando"

Agora, em vista dos recentes problemas trabalhistas e da ameaça de anarquia, nossos leitores estão escrevendo para saber se não pode haver um erro na data de 1914. Eles dizem que não veem como as condições atuais podem durar tanto tempo sob a pressão.

Não vemos razão para mudar os números – nem poderíamos mudá-los se quiséssemos. Eles são, acreditamos, datas de Deus, não nossas. Mas tenha em mente que o final de 1914 não é a data para o início, mas para o fim do tempo de tribulação. Não vemos razão para mudar nossa opinião expressa na visão apresentada na TORRE DE VIGIA de 15 de janeiro de 1892. Aconselhamos que seja lida novamente.

Como notamos, alguns leitores corretamente estavam céticos em relação as previsões feitas para 1914. Mas Russel tinha absoluta certeza de que iam se cumprir, não seria o começo da grande tribulação, mas sim o final desta. Chega ao ponto de dizer que não eram datas estabelecidas por ele, mas sim por Deus.

Ele acreditava que a grande tribulação devia começar anos antes de 1914, não devia passar de 1910 e atingir seu clímax em 1914.

A Torre de Vigia de Sião de 15 de setembro de 1901 na página 2876 das reimpressões. A seguir um trecho em tradução livre:

somos obrigados, portanto, a esperar o início dessa severa tribulação o mais tardar em 1910. - com espasmos severos entre agora e então

Falta de resultados trás cautela

Conforme 1914 vai chegando Russel vai ficando mais nervoso por não ver nada acontecendo e começa a mudar suas previsões.

Podemos ver isso dez anos antes da data limite na A Torre de Vigia de Sião de 1 de julho de 1904 na página 3389 nas reimpressões. A seguir alguns trechos em tradução livre:

Agora esperamos que a culminação anarquista do grande tempo de tribulação que precederá as bênçãos do milênio será depois de outubro de 1914 E.C. - muito rapidamente depois, em nossa opinião - "em uma hora", "de repente".

Nossos leitores familiarizados com a apresentação do assunto dada em MILLENNIAL DAWN lembrarão que a data, outubro de 1914 E.C., é definida com muita precisão em duas linhas de evidência ... Não encontramos nenhuma falha em nenhum desses testemunhos proféticos

Todas essas questões permanecem exatamente como eram - não temos nada a criticar ou alterar. Mas em um exame recente do encerramento da colheita judaica, com vista a fazer um escrutínio mais minucioso sobre o que poderia ser esperado no final da presente colheita da Cristandade, notamos que a queda real da política judaica não estava no início de 70 E.C., mas perto de seu fim, e imediatamente percebemos que a colheita de quarenta anos que terminou em 69 E.C. terminou antes que a destruição em seu sentido mais amplo chegasse às pessoas típicas. Imediatamente pensei no paralelo aqui e percebi, como dito acima, que nossa colheita de quarenta anos, terminando em outubro de 1914 E.C., não deveria incluir o terrível período de anarquia que as Escrituras indicam ser o destino da cristandade.

Russel muda o entendimento para ganhar mais tempo, agora a anarquia só vai acontecer depois de 1914 E.C. Compara mais uma vez com os 40 anos do começo do ministério de Jesus e a queda de Jerusalém, conforme Barbour havia feito antes, como no primeiro século a queda só ocorre depois de completar os 40 anos, apresenta aqui o mesmo indicando que só após esse período de 40 anos iria ocorrer a grande tribulação, não durante conforme dizia até então.

Nem todos gostaram dessa mudança, alguns leitores chegaram à conclusão que devia ter outros erros na cronologia. Um leitor chega a sugerir que a cronologia do Bishop Ussher poderia ser mais correta ao identificar a destruição de Jerusalém ocorrendo em 587 A.E.C. em vez de 606 A.E.C. Isso faria com que os 2.520 anos fossem completados em 1933 E.C. Mas Russel não aceita essa sugestão e reafirma sua convicção em 1914.

A Torre de Vigia de Sião de 1 de Outubro de 1904, páginas 3436 e 3437 nas reimpressões. A seguir alguns trechos em tradução livre de uma pergunta de um dos leitores e a resposta de Russel:

Prezado Senhor, - Já que você mudou seus pontos de vista a respeito dos Tempos dos Gentios, deixe-me sugerir a possibilidade de ainda outro erro. Você conta os setenta anos de cativeiro babilônico dos judeus como começando com a derrubada de Zedequias, o último rei de Judá, mas noto que a "Cronologia do Bispo Usher", dada nas margens de nossas Bíblias da Versão Comum e baseada no "Cânon de Ptolomeu", começa aquele período de setenta anos, dezenove anos antes – ou seja, no primeiro ano de Nabucodonosor, quando ele levou cativo Daniel e outros judeus proeminentes e colocou o país dos judeus sob tributo. Agora, se isso, o cálculo comum, estiver correto, faria com que os Tempos dos Gentios começassem dezenove anos mais tarde do que você estima, ou seja, em 587 A.E.C, em vez de 606 A.E.C.; - e isso, por sua vez, faria com que esses tempos terminassem dezenove anos mais tarde do que você calculou, - em outubro de 1933 E.C., em vez de outubro de 1914. O que você tem a dizer sobre isso? Você é humilde o suficiente para reconhecer que eu atingi uma nova luz, e que você e todos os leitores do DAWN estavam "todos errados", andando na escuridão?

Respondemos que há muitos "e se" na proposição, e que todos eles são abundantemente contraditos pelos fatos e pelas Escrituras e, portanto, não merecem a menor consideração.

(1) O irmão erra ao supor que mudamos nossa visão dos "Tempos dos Gentios". Esses "tempos" ou anos são 2520, com um início definitivo em 606 A.E.C., e um final definido, 1914 E.C. Não conhecemos nenhuma razão para mudar um dos números: fazer isso estragaria as harmonias e os paralelos tão evidentes entre as eras Judaica e do Evangelho. A única "mudança" em vista é que a anarquia que se seguirá ao fim desses "tempos" não os encurtará; e que a "colheita" de quarenta anos da igreja será completa e não sofrerá interferência da anarquia mundial que a seguirá. Isso, como mostramos, torna o paralelo com a era judaica ainda mais preciso; pois a colheita judaica de quarenta anos terminou em 69 E.C. - antes da completa anarquia entre os judeus que veio no ano seguinte.

Haviam outros na mesma época defendendo datas diferentes da de Russel, o Bispo Usher defendia corretamente que Jerusalém havia caído em 587 A.E.C., não em 606 A.E.C. As fontes arqueológicas confirmam 587 A.E.C. como sendo o ano em que Jerusalém é destruída pelos babilônicos, o único grupo que defende o ano 606/7 A.E.C. são as Testemunhas de Jeová.

E por qual motivo? Como vimos, Russel preferia manter uma harmonia em comparar os 40 anos entre Jesus e a queda de Jerusalém com o ano de 1874 E.C., o qual entendia ter iniciado a presença invisível de Cristo, e 40 anos depois em 1914 viria o fim. Pelo visto Russel se preocupava mais com estes paralelos do que com a veracidade.

Interessante notar que esse paralelo de 40 anos não tem sido mais usado pela Watchtower como tendo significado na cronologia bíblica, também o ano 1874 E.C. foi abandonado completamente como sendo o começo da presença invisível. O que a Watchtower passou a fazer foi pegar tudo que era dito sobre o ano de 1874 E.C. e passou a aplicar para o ano de 1914 E.C., atualmente dizem que neste mesmo ano se inicia a presença invisível de Cristo, e terminam os "tempos das nações".

Temos outra pergunta de um leitor na A Torre de Vigia de Sião de 15 de Agosto de 1904, página 3415 nas reimpressões. A seguir alguns trechos em tradução livre:

Pergunta. - Se os "Tempos dos Gentios" podem ser alterados como sugerido na TORRE de julho, de modo que a anarquia seja depois de 1914 E.C., em vez de ocorrer antes, não podem ser feitas mudanças semelhantes em relação a todas as várias linhas do tempo de provas proféticas apresentadas em MILLENNIAL DAWN, Vols. II. e III.?

Resposta: - Você está totalmente errado. Nem um número, nem uma data, nem uma profecia é em qualquer sentido ou grau afetado pelo artigo ao qual você se refere. De fato, a harmonia e a unidade do todo são mais plenamente demonstradas. Leia novamente o artigo ao qual você se refere, "Anarquia Universal, etc." (edição de 1º de julho), e você certamente verá isso. Se não for evidente para você em um estudo mais aprofundado, deixe-nos saber o ponto específico de sua dificuldade e nos esforçaremos para torná-lo claro.

A harmonia dos períodos proféticos é uma das provas mais fortes da exatidão de nossa cronologia bíblica. Eles se encaixam como as engrenagens de uma máquina perfeita. Mudar a cronologia, mesmo que um ano, destruiria toda essa harmonia - tão precisamente são as várias provas reunidas nos paralelos entre as eras Judaica e dos Evangelhos. Afetaria o fim dos ciclos do Jubileu, os 1.335 dias, os 2.300 dias e os tempos dos gentios, desregulando todas as maravilhosas harmonias destes nas "dispensações paralelas".

Recomendamos a você um novo estudo cuidadoso das apresentações das DAWNS, Vols. II. e III., sobre esses pontos. Evidentemente, todas as características temporais da verdade atual permanecem ou caem juntas, e não vemos fraqueza ou sinais de sua queda: ao contrário, tudo no mundo é confirmatório delas.

Diz ao leitor ele está totalmente errado, que nem sequer uma destas datas poderia ser alterada. Mudar a cronologia, mesmo que um ano iria destruir toda a harmonia. Que todas elas devem permanecer ou cair juntas, o que dizer novamente do ano 1874 E.C. que é totalmente abandonado depois? Teria essa mudança destruído toda a harmonia? Ou não nunca houve harmonia desde o começo?

Joseph F. Rutherford

Hoje milhões de Testemunhas de Jeová ensinam que a presença invisível de Cristo começou em 1914 E.C., mas muito poucos sabem que por quase 50 anos a organização ensinava que essa presença havia começado em 1874 E.C.

Podemos ver que até o ano de 1929 esse ainda era o ensino, 15 anos após 1914 ter passado sem o fim chegar. Em 1929 a Watchtower lançou o livro Prophecy, escrito por Joseph Franklin Rutherford, que havia sucedido Russel como presidente da Watchtower. Nele cita o ano 1874 na página 65. A seguir alguns trechos em tradução livre:

Seria de esperar que os dias de compreensão das profecias começassem algum tempo após a manifestação da segunda presença do Senhor, e a compreensão continuasse a aumentar depois disso.

A prova bíblica é que a segunda presença do Senhor Jesus Cristo começou em 1874 E.C.

Por mais tarde mudaram para a presença ter começado apenas em 1914 E.C., significa que todos os ensinos de Russel podem ser descartados, afinal, antes da presença não havia se manifestado compreensão de profecias?

Na A Sentinela de 15 de fevereiro de 1975, páginas 122 e 123 (no original em inglês na The Watchtower de 15 de Agosto de 1974 página 507) diz:

Em 1877, Russell juntou-se a Nelson H. Barbour na publicação do livro Três Mundos e a Colheita Deste Mundo. Este indicava que o fim dos Tempos dos Gentios, em 1914, seria precedido por um período de quarenta anos, a começar com uma colheita de três anos e meio a partir de 1874 E. C. Segundo a cronologia bíblica depois adotada, entendia-se que 6.000 anos da existência do homem na terra acabaram em 1872, ao passo que seis milênios de pecado humano terminaram e o sétimo milênio começou em 1874. Pensava-se que a presença de Cristo tivesse começado em outubro de 1874, no começo do grande Jubileu antitípico. — Lev., cap. 25; Rev. 20:4.*

A nota do asterisco acima diz:

* A criação do homem foi calculada como tendo sido em 4128 e a entrada do pecado em 4126 A.E.C. Esta cronologia seguia uma tradução incorreta do manuscrito de Atos 13:20 na The Emphatic Diaglott, que diz que Deus deu a Israel juízes "por cerca de quatrocentos e cinqüenta anos, até Samuel, o profeta". Uma nota ao pé da página declarava que isto estava em desacordo com 1 Reis 6:1, onde a letra hebraica dálete (considerada como representando o número 4) supostamente havia sido confundida com a letra parecida hê (5). Por isso, sugeriu-se que decorreram 580 (não 480) anos entre o êxodo de Israel do Egito e o tempo em que Salomão começou a construir o templo de Jeová. Mas os manuscritos mais antigos escrevem todos os números por extenso. Por isso não pode ter havido um erro visual do copista em 1 Reis 5:1, que apresenta este período corretamente como sendo de 480 anos. Isto se harmoniza com a tradução correta de Atos 13:20, que indica que o período de "cerca de quatrocentos e cinqüenta anos" mencionado ali precedeu à era dos juízes.

O livro "A Verdade Vos Tornará Livres", publicado pela Sociedade Torre de Vigia em 1943 (em português em 1946), eliminou os 100 anos não existentes no período dos juízes e colocou o fim de 6.000 anos da existência do homem na década de 1970. Fixou também o começo da presença de Cristo, não em 1874, mas em 1914 E.C.

Pelo visto apenas em 1943 que mudaram o começo da presença de Cristo para não ser mais em 1874, mas sim em 1914 E.C. O tradutor para o português escolheu usar a palavra "fixou" para a equivalente no original em inglês "fixed". O termo original poderia significar também "arrumou, ajustou, corrigiu", mas usar qualquer destes significaria admitir que a data estava errada e precisou de correção, algo que a Watchtower não faz. Não surpreende o tradutor para o português usar algo mais definitivo e assertivo como "fixou".

A frase poderia de forma mais honesta ter sido traduzida como: "Corrigiu também para o começo da presença de Cristo ser em 1914 e não em 1874 E.C."

O livro A Verdade Vos Tornará Livres não está disponível no site oficial das Testemunhas de Jeová. Mas vamos ver o que dizia o original.

The truth shall make you free na página 324. A seguir um trecho em tradução livre:

A presença ou parousia do Rei começou em 1914, e então sua aparição ou epiphaneia no templo veio em 1918.

Curiosamente, no livro inteiro não cita nenhuma vez o ano de 1874, simplesmente apresenta acima que 1914 começa a presença de Cristo. Como muitas vezes ocorreu na organização, um novo entendimento não se preocupa em citar o entendimento anterior e explicar o porquê de ter sido abandonado ou atualizado.